terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Resoluções de Ano Novo


O que o final do ano, de todos os anos, tem em comum são as múltiplas e multiplicadas resoluções de ano novo. Identificamos o momento do calendário com o fim de ciclo e o início de outro, momentos oportunos, portanto, para nos comprometermos connosco próprios/as. E comprometemo-nos, quase sempre, para a concretização de um desejo que, normalmente só virá a ser materializado com uma mudança.

E não é que parece mágica a resolução de ano novo?!

A intenção é sempre profundamente revestida de significado, mas é um facto que a maior parte das resoluções não dura muito, e logo as abandonamos! No final do ano, o exercício repete-se!

Mas, por que gostamos tanto de tomar resoluções e por que nos é tantas vezes difícil cumpri-las? Deixamos de querer essa realidade antes tão desejada? Na maioria das vezes, não! Então?

No processo é a ausência de estratégia que normalmente parece falhar, a habilidade de preparar os meios que permitam a mudança, contribuindo cada vez mais para que nos foquemos no desejo formulado. Porque sem um plano, o desejo jamais se transformará em objetivo e este em realidade, a não ser por um feliz acaso!

E porque os acasos são isso mesmo, apenas coincidências, a estratégia tem de ser montada. Há que assegurar a execução de alguns passos importantes:

i)              Procurar motivação continuamente para proceder às mudanças necessárias, focando o objetivo a alcançar (imagine como se irá sentir com o objetivo concretizado);
ii)             Traçar metas tangíveis (relativas quer aos resultados quer aos timings);
iii)            Controlar frequentemente os resultados da implementação;
iv)           Definir detalhes pertinentes para a concretização do objetivo (tempos, lugares, recursos (humanos, físicos, materiais,…).

E porque desejar sonhando é muito mais bonito e acreditar fazendo é meio caminho para alcançar o objetivo, um FELIZ  2016 para todos/as com muitas resoluções traduzidas em desejos e sonhos realizados! 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Os brinquedos têm sexo?

Para além do azul e do cor-de-rosa, dos carrinhos e das bonecas.

Assim que uma mulher sabe que está grávida e o anuncia, a primeira questão que usualmente se lhe coloca remete para o sexo da criança. A partir do conhecimento do sexo da criança, prepara-se a sua receção através da aquisição de roupas e brinquedos e da decoração dos espaços, frequentemente com cores pré-definidas (e.g. azul para os meninos e rosa para as meninas) e formulam-se uma série de expectativas relacionadas com as suas características e o seu percurso. As práticas de educação das gerações mais jovens têm, com frequência, na base estereótipos acerca dos papéis de género. A título de exemplo, foi solicitado a mães de bebés pequenas/os que participassem numa experiência sobre as brincadeiras das crianças: as mães conheciam uma criança de 6 meses, o “João” ou a “Joana”, sendo-lhes solicitado que brincassem com ela durante alguns minutos. A criança era vestida como menina ou como menino, independentemente do seu verdadeiro sexo. Os resultados evidenciaram que o comportamento das mães estava relacionado com o sexo atribuído à criança, oferecendo brinquedos típicos de género com base nessa apreciação (uma boneca à menina e uma matraca ao menino) e interagindo de forma diferente, mais ativamente e com mais estímulos motores com o rapaz, e com menos vigor com a rapariga.
Na época natalícia as referências às prendas, sobretudo na forma de brinquedos, são praticamente omnipresentes – na televisão, nas revistas, nas lojas, nas conversas familiares e nos olhos das crianças que brilham quando mencionam os tão almejados companheiros de futuras brincadeiras.
É indiscutível a importância que têm os brinquedos no desenvolvimento das crianças: é através da brincadeira e dos brinquedos que se processam aprendizagens essenciais e se desenvolve uma série de competências fundamentais. Os brinquedos, contudo, não são neutros: acredita-se que os brinquedos usualmente oferecidos às meninas (conjuntos de panelas/tachos, bonecas e bonecos e kits de maquilhagem, entre outros) promovem nelas menor criatividade por terem uma finalidade pré-definida, o mesmo não se passando com os brinquedos normalmente oferecidos aos rapazes (construções bolas, legos, pistas de carros, etc), que facilmente estimulam a criatividade e maior ocupação do espaço circundante, justamente por não terem uma finalidade prevista. Verifica-se, assim, a existência de desigualdade na estimulação cognitiva decorrente da oferta diferenciada de brinquedos com base no género da criança, que poderá traduzir-se mais tarde em questões como a capacidade de resolução de problemas ou a autoconfiança para enfrentar desafios ou explorar o espaço com autonomia, por exemplo.
A verdade é que mesmo quando as crianças expressam esse desejo, dificilmente as pessoas adultas, designadamente a mãe e o pai, oferecem brinquedos atípicos (e.g. bonecas aos meninos e pistas de carros às meninas). Contudo, quando acontece uma criança não corresponder, no que respeita o seu comportamento e/ou as suas preferências lúdicas, ao estereótipo de género no qual se enquadra, estes desvios são mais facilmente aceites quando protagonizados pelas meninas; os meninos, por outro lado, são fortemente marginalizados, dado que o desejo de manipular brinquedos e/ou empreender em brincadeiras típicas de meninas não se enquadra na imagem estereotipada de masculinidade, sendo frequentemente associado este desejo a manifestações de homossexualidade.
A forma como os brinquedos são apresentados afeta os hábitos de consumo, havendo pessoas que sentem desconforto ao adquirir para um rapaz um brinquedo cor-de-rosa tipicamente atribuído às meninas, por exemplo. Por outro lado, há pessoas que podem nem aperceber-se de que as suas escolhas são restritas, limitadas, não notando que não existem kits de ciência ou blocos de construção na “secção das meninas” nas lojas ou no próprio catálogo de brinquedos. E se a criança nunca tiver a oportunidade de experimentar brinquedos diferentes, não terá a noção de quais são verdadeiramente as suas preferências e não poderá explorar outras possibilidades.
A separação de brinquedos de acordo com o sexo da criança tem vindo a adquirir cada vez maior expressividade: há 50 anos atrás, no catálogo da rede americana de lojas Sears apenas 2% dos brinquedos eram publicitados com base nesse critério, atualmente a maior parte dos catálogos apresenta os brinquedos separados por sexo, com indicação “para menina/para menino”, recorrendo a imagens estereotipadas, como se pode verificar nas imagens seguintes (retiradas de catálogos de brinquedos de 2015):



Verifica-se, contudo, algum progresso que demonstra que as marcas estão a reagir a estas questões: a Disney retirou a etiqueta “girls” (meninas) e “boys” (meninos) dos fatos de Halloween e a empresa espanhola Toy Planet aposta, pelo segundo ano consecutivo, num catálogo de brinquedos que rompe com o sexismo, apresentando meninos e meninas a brincar com diferentes brinquedos sem qualquer separação com base no sexo das crianças.


Vale a pena pensar nisto, ao responder aos pedidos natalícios das crianças… os brinquedos servem para brincar, explorar e conhecer o mundo. É simples assim.




Fontes consultadas:
Amâncio, L. (1993). Género - Representações e identidades. Sociologia - Problemas E Práticas, (23), 127–140.
CIG (Ed.), (2009). Guião de educação Género e Cidadania. 3º Ciclo. Lisboa: CIG.
Vieira, C. (2006). É menino ou menina? Género e educação em contexto familiar. Coimbra: Almedina.
Vieira, C. (2008). Estereótipos de género. In N. Rubim, A. C. & Ramos (Ed.), Estudos da cultura no Brasil e em Portugal. Bahia: EDUFBA.
Vieira, C. (2013b). Educação familiar. Estratégias para a promoção da igualdade de género (3a Edição., p. 115). Lisboa: CIG.

Uma experiência feita de experiências...



O aparecimento deste espaço a que passaremos a chamar "Multiaveiro bloga..." foi acima de tudo um pretexto para que todas e todos na Multiaveiro fossem levados/as a partilhar! Partilhar ideias, pensamentos,  conceitos, experiências feitas da experiência e das vivências somadas ao longo de mais de 20 anos de atividade no âmbito da formação, dos projetos sócio-organizacionais e da consultoria. Sobretudo isto!

Em todas as suas edições, será tratado um tema direta ou indiretamente associado ao background de experiências da equipa, esperando que cada um destes momentos represente uma oportunidade de mudança para que cada uma e cada um de nós “saia da caixa”; uma oportunidade de somarmos algo de novo; uma oportunidade de nos desenvolvermos e de um partilhar diferente!

A auto confiança e a rotina têm uma capacidade incrível de desenvolver em nós a maravilhosa sensação de que está tudo controlado, para que tudo corra bem! Mas “correr bem” pode apenas significar que replicamos, que não precisamos de integrar nenhum elemento novo à execução de uma tarefa, de um projeto, à formulação de uma opinião ou mesmo à partilha de uma experiência. É por este motivo que uma parte muito significativa do tempo da nossa existência é passada num estado de quase letargia no domínio criativo e das ideias, não que com o tempo fiquemos vazias e vazios, mas sobretudo porque tendemos a deixamos progressivamente de nos permitir mudar, fazer diferente, porque é mais confortável, tranquilo e cómodo, o que nos traz muita estabilidade, rotina e necessariamente muita passividade. Passa a ser uma forma preferida de estar e para a qual a nossa construção mental nos transporta. Passamos a ter menos dúvidas sobre as coisas, passamos a questionar menos, a fazer da mesma maneira mais vezes a mesma coisa e, acima de tudo, podemos não pensar muito para tomar decisões em tempo útil. O hábito passa a ser a nossa estrutura, um padrão mental e comportamental que é instituído por força da repetição.

Então, com a convicção de que não crescemos de forma irremediável com o passar dos  anos, nem pessoal nem profissionalmente, mas com os impulsos e provocações que resolvemos encarar, partilhemos experiências e saíamos do conforto do costume!