Contrariamente ao que se acreditou durante muito tempo, um elevado QI não
garante necessariamente o sucesso na vida. Cientistas têm concluído que o
conceito de inteligência intelectual não é suficiente para prever o desempenho
de uma pessoa, propondo um novo tipo de inteligência – a inteligência
emocional.
Até ao século passado, o conceito de inteligência remetia exclusivamente
para funções cognitivas, como a memória, a aprendizagem e a resolução de
problemas. No entanto, cientistas que trabalham nesta área começaram a
compreender que também existem aspetos não cognitivos associados à
inteligência.
O estudo da inteligência emocional surge com Charles Darwin, que sugeriu que a expressão emocional era
fundamental para a sobrevivência. Edward
Thorndike, psicólogo americano que desempenhou um papel significativo na
popularização do conceito de QI (quociente de inteligência), descreveu a
inteligência social, que remete para a capacidade de compreender e gerir
pessoas e que constitui um forte preditor de sucesso na vida. Em 1983, Howard
Gardner publicou um trabalho pioneiro e revolucionário (Frames of mind: The
theory of multiple intelligences), no qual argumentava que as pessoas têm mais
do que um tipo de inteligência. O seu modelo de inteligências múltiplas
focalizava-se sobretudo na inteligência intrapessoal (a capacidade de
compreender os próprios sentimentos, motivações e medos) e na inteligência
interpessoal (a capacidade de compreender as outras pessoas e os seus desejos,
as suas motivações e as suas intenções). John
Mayer e Peter Salovey,
psicólogos de Yale, desenvolveram a teoria da inteligência emocional, em 1990,
contemplando a possibilidade de medir a inteligência emocional (QE – quociente
emocional) através de um modelo semelhante ao utilizado para avaliação da
inteligência analítica. António Damásio,
neurocientista português, também contribuiu para demonstrar, nos anos 90,
através do seu trabalho e da sua célebre obra, “O erro de Descartes”, a
importância das emoções no processo de tomada de decisão e no comportamento
social.
Mas foi apenas em 1995 que Daniel
Goleman introduz definitivamente e populariza a inteligência nacional, com
a publicação do livro “Inteligência emocional”.
Mas ser emocionalmente inteligente significa o quê exatamente? Esconder o
que se sente? Expressar todas as emoções? De uma forma muito simples,
inteligência emocional traduz-se na capacidade de identificação das próprias
emoções e das emoções das outras pessoas e de utilizar essa capacidade no
sentido de criar condições propícias ao relacionamento interpessoal isento de
conflitos.
O reconhecimento de que as emoções são uma resposta neurológica e natural à
vivência de estímulos fortes permite que o cérebro (racional) desenvolva
mecanismos que facilitem a compreensão e a mais eficaz gestão do que as emoções
pretendem transmitem e, assim, adaptar a resposta, ou seja, o comportamento.
Não é possível nem desejável fugir ou ignorar as emoções. Onde quer que se vá,
as emoções acompanham as pessoas, têm uma base biológica e evolutiva e
esforçam-se por comunicar algo importante. Cada pessoa deve, pois, empenhar-se
por verdadeiramente escutar a mensagem presente na experiência de cada emoção e
adaptar o seu comportamento de acordo com os seus interesses e os seus
objetivos.
Pense numa situação, na sua vida pessoal ou profissional, em que tenha
enfrentado um desafio particularmente difícil. Um aumento salarial que não se
concretizou, responsabilidades profissionais acrescidas que resultam em
dificuldades na vida familiar ou incompreensão e intolerância inesperadas por
parte de uma pessoa próxima. Consegue descrever o que esta(s) situação(ões) lhe
fez(fizeram) sentir? Compreende de que forma as emoções que vivenciou
influenciaram a forma como respondeu/reagiu? De quanto tempo necessitou para
ultrapassar a situação e retomar o seu ritmo normal? Conseguiu perceber o que
sentiram as outras pessoas envolvidas na situação?
Uma pessoa que não tenha desenvolvido a sua inteligência emocional tende a
imobilizar-se perante obstáculos. Não consegue ultrapassar estas situações ou
debate-se com elas durante muito tempo, reagindo com frequência de forma
negativa a outras pessoas envolvidas, o que se traduz em irritabilidade e
dificuldade em realizar tarefas.
Por outro lado, uma pessoa emocionalmente inteligente também enfrenta este
tipo de situações, mas reage de forma diferente. Consegue analisar o que sente,
compreender de que forma o que sente influencia o seu comportamento e as suas
escolhas, reconhecer o que as outras pessoas sentem e criar empatia com elas.
Estudos confirmam que as capacidades intelectuais são responsáveis por
apenas 20% do êxito na vida. As pessoas mais bem-sucedidas são as que conseguem
desenvolver as suas competências emocionais e utilizá-las de forma pragmática,
em conjunto com as suas faculdades intelectuais.
A área da inteligência emocional tem vindo a ser alvo de forte investimento
por parte da Multiaveiro, sobretudo através da dinamização de ações de
formação, contribuindo, desta forma, para o desenvolvimento de competências que
permitem uma mais eficaz e inteligente gestão emocional, que se traduz em mais-valias
pessoais, familiares e profissionais.
Tem-se constatado a existência de um crescente interesse e uma forte
apostas das empresas e das entidades do terceiro setor em dotar as suas
colaboradoras e os seus colaboradores de competências em inteligência
emocional, que permitem o aumento da
aptidão para compreender as outras pessoas, a melhoria do relacionamento interpessoal e contribui para maior satisfação e mais
elevada produtividade no local de trabalho.
A próxima ação decorre em Aveiro,
no dia 27 de abril.
Fontes consultadas:
Bradberry, T. &
Greaves, J. (2005), Guia prático da
inteligência emocional. Lisboa: Bertrand Editora.
Goleman, D. (2006), Inteligência emocional. Lisboa: Sábado
Editora.
Guerra, P. B. (2001), Cerebrus. A gestão intrapessoal.
Cascais: Editora Pergaminho.
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