O termo bullying é utilizado para descrever o conjunto de comportamentos de humilhação e provocação dirigidos a alguém, sem motivo aparente, que se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva. Discussões ou zangas pontuais, piadas ou provocações dispersas não podem ser consideradas bullying. O bullying envolve sempre uma relação desequilibrada de poder e controlo, exercido pelos/as mais fortes em relação aos/às mais fracos/as.
Segundo Telma Vinha, psicóloga e investigadora
brasileira, para ser considerada bullying a agressão deve apresentar quatro
características fundamentais: a intenção do/a autor/a em ferir o alvo, o
carácter repetitivo da agressão, a presença de um público espectador e a
concordância do alvo relativamente à ofensa. Conforme explica, ''Quando o alvo
supera o motivo da agressão, ele reage ou ignora, desmotivando a ação do
autor''.
Muito associado ao contexto escolar e a
interações entre estudantes, o bullying pode, contudo, ocorrer em qualquer
contexto social. Não se tratando de um fenómeno novo, é um tema
indubitavelmente atual, com uma expressão recente digna de pesquisa e de reflexão.
A título de exemplo, a utilização neste contexto, de novas tecnologias como os
telemóveis e a internet, o chamado cyberbullying, permite uma nova abordagem ao
fenómeno.
Existem diversos tipos de bullying atendendo à
forma como as agressões são praticadas e/ou aos meios utilizados, bem como, aos
motivos que estão subjacentes e estas práticas.
O bullying baseado no preconceito em relação à
orientação sexual ou identidade de género de outra pessoa é um tipo de bullying específico,
designado como bullying homofóbico. O bullying homofóbico caracteriza-se
por comportamentos associados ao bullying de forma geral, como as agressões
físicas, verbais ou sexuais, mas revestidos de teor homofóbico.
Apesar da investigação sobre bullying
ter sofrido um aumento significativo nos últimos anos, designadamente em
Portugal, verifica‑se que a sua relação com outras áreas, como a homofobia,
tem sido menos estudada. É evidente, no entanto, a ligação entre estes dois
fenómenos. As experiências relatadas por indivíduos LGBT (Lésbicas, Gays,
Bissexuais e Transgéneros) ilustram bem esta realidade. É de salientar,
contudo, que independentemente da orientação sexual ou identidade de
género, qualquer pessoa pode ser vítima de bullying homofóbico. De outra
forma, também os/as heterossexuais podem ser vítimas de homofobia, não pela sua
orientação sexual, mas porque são percebidos/as como sendo diferentes das
expectativas tradicionais relativamente aos géneros masculino ou feminino.
A baixa auto‑estima, os sentimentos de culpa, a
tendência para o isolamento, as dificuldades de concentração, a fobia à escola,
a ansiedade, a depressão e as tentativas de suicídio, são apenas alguns
exemplos das consequências do bullying homofóbico, aparentemente não
muito distintas dos outros tipos de bullying. Alguns/mas autores/as defendem,
no entanto, que o bullying homofóbico, nomeadamente por ser menos visível
e menos credibilizado, se pode tornar mais grave do que outras formas de bullying.
Não obstante as evoluções verificadas a este
nível em Portugal, nomeadamente em termos legais, muito há ainda a fazer neste
domínio. Um estudo realizado por investigadores/as do ISCTE, em colaboração com
a rede ex aequo, (associação de jovens lgbti – lésbicas, gays, bissexuais,
transgéneros e intersexuais e apoiantes) e apoiado pela Comissão para a
Cidadania e Igualdade de Género (CIG) que analisou o fenómeno do bullying homofóbico
em Portugal revela que, à semelhança do panorama internacional, a escola é o
local privilegiado para a ocorrência deste fenómeno. Os resultados indicam também
que prevalece a violência psicológica e a vitimização de rapazes relativamente
às raparigas; que os comportamentos de agressão são muitas vezes desvalorizados;
que subsistem atitudes de não intervenção nas situações presenciadas e ainda
que existem consequências psicológicas muito significativas para as vítimas de bullying homofóbico,
comparativamente com as não‑vítimas.
Na perspetiva da abordagem, não só preventiva
mas de intervenção concreta, é ainda sublinhada, no âmbito deste estudo, a
importância de conceber programas de sensibilização, de criar medidas de proteção
para as vítimas de bullying e ainda de aprofundar a investigação desta
temática.
Com efeito, é urgente que se compreenda que a
luta contra o bullying, e, neste caso em particular, contra o bulling homofóbico,
não pode passar apenas por alterações legais, por gabinetes e apoio
psicológico. É fundamental continuar a formar e a informar as pessoas para o
respeito pelo outro/a e para a aceitação e valorização da diferença.
A Multiaveiro, Lda., que
desde sempre norteia a sua ação por estes valores, e reconhecendo o importante
papel que pode desempenhar na construção de uma sociedade mais justa e mais
livre, através da formação de pessoas, encontra-se neste momento a preparar um
projeto formativo na área da Igualdade de Género. As ações de formação a
promover permitem aprofundar conhecimentos e competências associados à promoção
da igualdade de género e à prevenção e combate das discriminações em razão do
sexo e destinam-se a profissionais em áreas consideradas estratégicas
(educação/formação, saúde, direito, forças de segurança, gestão de recursos
humanos, serviço social, publicidade, jornalismo, entre outras).
Está previsto, no âmbito deste projeto, o
desenvolvimento de um curso dedicado especificamente à temática Orientação
sexual e Identidade de género, onde serão abordados, entre outros, os seguintes
temas: especificidades da discriminação contra pessoas LGBT, direitos das
pessoas LGBT: leis e instituições, crimes de ódio e violência doméstica e rede
de recursos LGBT existentes.
Mantenha-se informado/a e envolva-se! Participe
neste projeto!!
Fontes
consultadas:
António, Raquel; Pinto, Tiago; Pereira,
Catarina; Farcasa, Diana; Moleiro, Carla (2012) Bullying homofóbico no
contexto escolar em Portugal, Psicologia vol.26, Lisboa: ISCTE‑IUL.
Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-20492012000100002
Dinis, Nilson Fernandes (2011), Homofobia e
educação: quando a omissão também é signo de violência, Educar em Revista
jan/abr 2011, Curitiba, Brasil: Editora UFPR. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/er/n39/n39a04
Vila, Carlos; Diogo, Sandra (2009), Bullying
(trabalho de curso), Portimão: ISMAT - Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes.
Disponível em http://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0142.pdf
http://www.apavparajovens.pt/pt/go/o-que-e2
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